É com brilho nos olhos que Vanusa Pires Leandro fala de sua realização em lecionar para crianças com necessidades especiais. Há poucos dias, assumiu como professora titular duas classes na Apae Pederneiras. Uma delas apenas com alunos autistas e a outra com cadeirantes deficientes intelectuais. Esse sonho de trabalhar pela inclusão na educação foi alcançado após concluir a faculdade de Pedagogia, dois anos atrás, na FGP, em Pederneiras. Mas sua trajetória não foi tão simples como pode parecer. Aliás, Vanusa é um exemplo de inspiração.
Hoje, aos 44 de idade, lembra que 30 anos atrás trabalhava na lavoura de cana-de-açúcar. A rotina desgastante aliada ao fato de morar na zona rural, o que dificultava sua assiduidade às aulas, a impediram de continuar estudando. Conseguiu retornar à escola, para concluir o ensino fundamental e depois o médio em 2016, quando passou a morar na cidade com sua família. Ela se matriculou no EJA (Educação de Jovens e Adultos) e ainda motivou o marido a também retomar os estudos. Ambos concluíram juntos. “Não havia turma da 7ª séria, apenas da 6ª, a qual eu já tinha terminado. Mas, para assegurar vaga no ano seguinte, aceitei refazer a 6ª séria por um semestre”, conta.
A disciplina e determinação de Vanusa eram maiores que sua condição de estudante à época. Ela lembra que muita gente a confundia com a professora na sala de aula. Foi quando começou a despertar o desejo de se tornar uma educadora. E a oportunidade, por coincidência ou não, apareceu. “Um colega de classe, ainda no EJA, me repassou a bolsa de estudos de 50% que ele havia ganhado em um sorteio feito pela Faculdade FGP. Não tive dúvida, me matriculei em Pedagogia”.
A então concluinte do segundo grau começou no ensino superior em 2020, ano da pandemia da Covid 19. Com paixão estampada no semblante, Vanusa conta que se identificou muito com as crianças e passou a alimentar o sonho de se dedicar à educação inclusiva. Tudo começou a convergir para esse projeto. “Em uma atividade de integração na primeira semana de aula na Faculdade FGP, tive que descrever a escola ideal para mim. Eu a destaquei como um ambiente acolhedor, adaptado para receber a todas as crianças, independentemente de suas necessidades. Na semana seguinte, fui chamada para trabalhar na Apae. E isso aconteceu exatamente um ano após eu participar de um processo seletivo para o setor de limpeza”.
Hoje, pedagoga por formação, pós-graduada em psicopedagogia institucional e aluna de especialização em TEA e DI (Deficiência Intelectual), se dedica a ensinar e a compartilhar toda a sua compaixão a crianças especiais exatamente na instituição onde oferecia seus cuidados para o bem-estar de todos. “Quero fazer a diferença para eles. Adaptar minhas aulas, considerando a particularidade e necessidade de cada um. Tenho amor por esse propósito. Isso me move”, sentencia.